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Por mais difícil que seja imaginar, 33% dos líderes brasileiros entrevistados em pesquisa da PWC disseram que a crise teve impacto positivo. O resultado saiu na Pesquisa Global sobre Crises 2021 da PwC, que está em sua segunda edição. No mundo, esse índice ficou em 20%. O instituto de pesquisas Ipsos, também apurou otimismo sobre 2022: 77% dos 22.000 entrevistados esperam um novo ano melhor.
Ficam as perguntas: que tipo de empresa é esta com uma visão tão otimista, que filosofia de gestão elas construíram, quem são os empregados que elas contratam?
A pesquisa PWC – feita de agosto de 2020 a janeiro de 2021 – contou com informações de 2.814 líderes empresariais de 73 países para analisar a resposta da comunidade empresarial global a uma situação de disrupção social, econômica e geopolítica sem precedentes. Não se pensava em pandemia ainda, mas na primeira versão do estudo, em 2019, 95% dos entrevistados já acreditavam em uma crise a caminho. Ainda assim, mais de um terço dos entrevistados não prepararam uma equipe para atuação em cenários de crise.
Respondendo às questões iniciais, a criação de uma estrutura de resiliência para assimilar e enfrentar crises – independentemente de sua natureza – é um caminho sem volta e é o que coloca os negócios e os profissionais em situação diferenciada em cenários difíceis e imprevistos. Essas empresas e profissionais conseguem se mobilizar com mais rapidez nesse tipo de cenário.
A maioria não fez a lição, mas 35% dos executivos que responderam à pesquisa afirmaram ter um plano “muito relevante” para crises. Se as empresas são feitas pelas suas culturas organizacionais, filosofia de negócio, modelo de gestão, estrutura física e recursos humanos, são os recursos humanos que farão tudo funcionar na prática. Assim, o profissional que inicia carreira agora, após o choque da pandemia recente, e os que já estão desenvolvendo suas carreiras precisam se perguntar como estão preparados para trabalhar no ambiente privilegiado comandado pelos 33% dos líderes que disseram que a pandemia teve impacto positivo ou com os 35% que tinham plano muito relevante para enfrentar um momento como este.
As empresas já dizem o que estão fazendo de diferente para esse tipo de situação. Na pesquisa PWC, elas declararam que fazem exame minucioso de sua resposta à crise, incorporação de insights e lições aprendidas em sua estratégia corporativa de longo prazo e treinamento para fortalecer a capacidade de preparação e resposta. Os profissionais, mesmo os iniciantes ou, antes, os que ainda estão nos bancos universitários, devem fazer as mesmas reflexões e planos para estarem preparados para assinar um contrato de trabalho nesse tipo de empresa.
Em um artigo publicado pela MIT Sloan Management Review, compartilhado pela Deloitte, John Hagel III e Maggie Wooll dizem que a natureza do trabalho está evoluindo e que o trabalho não é mais uma questão de execução de tarefas, mas uma estratégia de criação de novos valores para as organizações. É preciso também considerar que aquilo que fazemos no trabalho contribui não apenas materialmente e nem somente com a carreira profissional, mas com a vida pessoal.
Há uma nova cultura organizacional emergindo depois desses dois anos esperados, mas imprevistos. A escritora Clara Cecchini, especialista em estratégias de aprendizagem, inovação e curadoria de conteúdo, diz que as organizações precisam se tornar plataformas de conhecimento, assim como os profissionais precisam ser melhores aprendizes e potencializar a aprendizagem por onde passam”.
Para isso, agora, mais do que nunca, é preciso traçar um plano de autodesenvolvimento contínuo e buscar o autoconhecimento para não navegar no escuro. Um não pode ser feito sem o outro. Há ferramentas avançadíssimas de autoavaliação que traçam um perfil muitas vezes desconhecido e imprescindível para disputar boas posições no mercado. É o que fazem os profissionais que tiram o melhor das crises e, ao final delas, concluem que tiveram impacto positivo.
Dimas Facioli
Diretor da Facioli Consultoria