Leia em 5 min.
O Brasil soma hoje 12 milhões de jovens que não estudam nem trabalham. São pessoas com até 29 anos de idade que deveriam estar iniciando a vida profissional e/ou estudando, mas vivem com renda incerta, subempregos ou dependem de outros.
Esse contingente representava 30%; ou seja, quase um terço, dos jovens brasileiros até o segundo trimestre do ano passado, segundo a consultoria IDados. No início da pandemia, em 2020, os números aumentaram. Os dados de 2021 tiveram um recuo, mas, ainda assim, ficaram acima das cifras observadas antes da pandemia. No primeiro semestre de 2019, esse contingente de jovens conhecidos como nem-nem representava 27,9% do grupo até 29 anos de idade e o crescimento dessa população vem sendo percebido desde 2012 – nessa época eram 10 milhões de pessoas ou 25% do quadro. Em 2020 foram contabilizados quase 800 mil jovens sem trabalho e estudo a mais em comparação com o primeiro semestre de 2019.
O IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada também levantou que 23% dos jovens brasileiros nem estudam nem trabalham, sendo a maior parte mulheres de baixa renda, somando-se a outros 49% que estudam, 13% que trabalham e 15% que conseguem estudar e trabalhar ao mesmo tempo. O percentual nem-nem no Brasil segundo o levantamento IPEA é um dos maiores em comparação com outros oito países da América Latina e Caribe.
O país vive um paradoxo porque registra, por um lado, um grupo de profissionais mais qualificados que ocupam postos estratégicos nas organizações e que conseguem definir suas carreiras profissionais conforme seus critérios e valores. São pessoas que escolhem organizações afinadas com seus valores e buscam no trabalho um propósito de vida.
Por outro lado, temos um terço de jovens aproximadamente que ou não são atendidos por programas de inserção no trabalho e educação ou chegam ao mercado carentes de habilidades, segundo o estudo do IPEA, especialmente as habilidades cognitivas e socioemocionais, sem as quais não conseguem desenvolver carreira profissional e certamente enfrentam dificuldades preocupantes na vida pessoal.
Um amplo estudo de 2018 feito pelo BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento também analisou o cenário dos jovens na região da América Latina e Caribe. O relatório “Millennials na América Latina e no caribe: trabalhar ou estudar?” ouviu mais de 15.000 jovens entre 15 e 24 anos de nove países – Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Haiti, México, Paraguai, Peru e Uruguai. O trabalho cita 20 milhões de jovens nem-nem na região e ressalta que a grande maioria deles não é ociosa ou improdutiva; muitos estão procurando trabalho, cuidam da família, desempenham tarefas domésticas, ajudam nos negócios da família; ou seja, têm atividades produtivas e, portanto, participam da força de trabalho, mas são jovens “mal classificados”.
O estudo aponta que somente 3% na região não realizam nenhuma tarefa nem têm alguma deficiência que os impossibilita para o trabalho ou estudo. Porém, no Chile e no Brasil as taxas são mais altas: são cerca de 10% de jovens inativos.
Um dos problemas apontados é a questão educacional. No Brasil os jovens pesquisados completaram menos de dez anos de estudo. Outros problemas referem a possibilidade de ganhos maiores na informalidade do que num emprego formal, a alta rotatividade no trabalho, que leva a experiências instáveis, sem capacitação ou incentivos ao desenvolvimento, e o índice de 40% não capazes de executar cálculos matemáticos bastante simples, que é um indicador preocupante para o futuro deles e dos países.
O levantamento, porém, mostra um jovem otimista, pois 85% dos participantes da pesquisa querem concluir o ensino superior – a região contabiliza que a cobertura do ensino superior chega a apenas 40% – e 65% acreditam que alcançarão suas aspirações educacionais e profissionais.
Temos visto iniciativas grandiosas por parte da sociedade civil voltadas à inclusão, capacitação, escolarização e inserção de jovens no mercado de trabalho. As empresas chegam a contratar um jovem por suas qualidades pessoais e sem qualquer experiência para, então, formar o profissional. Ou seja, há um movimento no Brasil que há décadas era insipiente, e há projetos de instituições diversas com o mesmo foco gerando bons resultados. O que precisa é uma política que consiga congregar e compartilhar experiências no sentido de valorizar e fortalecer projetos que estão fazendo a diferença.