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Trabalho e escritório que valham a pena; novas expectativas dos trabalhadores pós-pandemia, trabalho flexível, mas não permanentemente ativo e o novo capital social das organizações – esses foram os principais itens apontadas no Índice de Tendências de Trabalho de 2022 que resultou de um estudo com 31.000 pessoas em 31 países e ainda analisou trilhões de sinais de produtividade no Microsoft 365 e tendências trabalhistas no LinkedIn.
A primeira delas mostra que os empregados agora têm uma nova equação que vem norteando suas carreiras – eles estão mudando significativamente a percepção que têm do trabalho em relação à qualidade de vida: 47% das pessoas entrevistadas disseram estar mais propensas a priorizar a vida familiar e pessoal em detrimento do trabalho e 53% querem priorizar mais a saúde e o bem-estar do que antes da pandemia, principalmente as mulheres e pais de família. Nos depoimentos, os profissionais declararam que o trabalho para eles é parte de suas vidas e não sua identidade principal.
O estudo mostra que 18% das pessoas sairiam de seus trabalhos em 2021 – eram 17% em 2020 – e este comportamento é uma tendência. O que motivou as demissões: bem-estar ou saúde mental (24%), receio de contrair a Covid-19 (21%), falta de confiança na alta administração/liderança (21%) e falta de horário ou local de trabalho flexível (21%). Os pesquisadores chamaram a atenção para o item “não receber promoções ou aumentos merecidos” que ficou com 19%, em sétimo lugar.
Para provar a “tendência”, no próximo ano 43% dos profissionais estão bastante ou extremamente propensos a considerar uma mudança de emprego – na pesquisa anterior eram 41%. Os analistas avaliam que a força de trabalho está em transição – tanto profissionais que atuam no modelo híbrido de trabalho consideram mudar para o formato remoto, quanto os remotos consideram mudar para o modelo híbrido.
Já para escolher um novo emprego, os profissionais continuam a apontar a qualidade de vida como item decisivo. Para 46% dos entrevistados, a empresa precisa ter uma cultura positiva; para 42%, benefícios de saúde mental/bem-estar; 38% escolheram horário flexível de trabalho, e 36% querem mais do que duas semanas de férias remuneradas a cada ano. O estudo detalhou o comportamento das gerações e, neste caso, 70% da geração Z (nascida a partir da 2ª metade dos anos 1990 até 2010, ou seja, em um ambiente completamente digital) consideram ganhar renda adicional em um projeto ou negócio paralelo já no próximo ano – isso aponta um desafio para os líderes que é o de reter talentos.
O segundo item do Índice de Tendências de Trabalho de 2022 mostra que 74% dos gerentes disseram não ter influência ou recursos para promover mudanças para os funcionários; outros 54% disseram que a liderança está fora de contato com os funcionários. Considerando que um levantamento do LinkedIn mostra que empregos remotos atraem 2,6 vezes mais visualizações e quase 3 vezes mais candidatos, os líderes terão, cada vez mais, que desenvolver novas competências para se relacionar com suas equipes.
Como fazer o escritório valer a pena é outro desafio. 38% do pessoal que trabalha em formato híbrido dizem que o maior desafio é saber quando e por que entrar no escritório, mas somente 28% dos líderes organizaram acordos para trabalho híbrido para definir por que e quando ir ao escritório.
“Sempre ativo” – este é outro tema importante quando se considera 252% de aumento no tempo semanal gasto por usuário médio da plataforma colaborativa Microsoft Teams para reuniões online desde fevereiro de 2020. A quantidade de reuniões semanais pela mesma plataforma aumentou 153%. Mas há algumas tendências positivas neste cenário: por exemplo, 60%, ou seja, a maioria, das reuniões hoje duram menos de 15 minutos, as reuniões têm começado mais tarde às segundas-feiras e terminado mais cedo às sextas-feiras. Os analistas ressaltam a importância de se criar normas para que as pessoas não precisem estar sempre ativas.
E o último item destacado é a importância da reconstrução do capital social em um mundo híbrido. 51% dos trabalhadores em formato híbrido dizem que provavelmente ficarão remotos no próximo ano, enquanto 43% dos líderes dizem que a construção de relacionamentos é o maior desafio no trabalho remoto e híbrido. É preciso reconectar tanto os profissionais remotos quanto os híbridos à estrutura das empresas, apesar de que os que mantiveram trabalho híbrido tiveram menos problemas do que os profissionais que ficaram totalmente em funções à distância.
É essencial manter bons e prósperos relacionamentos na vida pessoal e também no ambiente de trabalho. A difícil experiência com a pandemia parece estar qualificando as relações porque os dados analisados pelo Índice de Tendências de Trabalho de 2022 mostram que as pessoas estão prontas para parar de enviar e-mails e se conectar com os colegas: 48% querem dispensar menos tempo com e-mails e agendamento de reuniões e mais tempo em fazer networking. O capital social, tão importante neste mundo de retomada e reconstrução dos modelos de trabalho, depende da reconstrução e qualificação dos relacionamentos.
Este cenário alerta para a necessidade de desenvolvimento de sólidas habilidades para lidar com o humano e pede criatividade e muita inovação nas estratégias de incentivo e qualificação da conexão entre as pessoas. Aquelas organizações em que um colega não conhecia o outro só porque ele estava em outro departamento já estão mudando. E se as pessoas se diziam insatisfeitas com a frieza do mundo impessoal, a velha máxima das antigas famílias que viviam em vilas, estavam sempre juntas e ali tinham de vencer seus desafios, pode inspirar novas estratégias agora.